September 4, 2008

Andarilho (Roamer) - Curta Metragem de Miguel Saraiva




E porque é mais fácil, não melhor, mas ainda assim bonito (é essa a palavra) mostro aqui um poema para ti, Mike. Obrigada pela partilha.

Beijinhos,
Lena


A Máscara


Esta luz animada e desprendida

Duma longínqua estrela misteriosa

Que, vindo reflectir-se em nosso rosto,

Acende nele estranha claridade;

Esta lâmpada oculta, em nossa máscara

Tornada transparente e radiante

De alegria, de dor ou desespero

E de outros sentimentos emanados

Do coração dum anjo ou dum demónio;

Este retrato ideal e verdadeiro,

Composto de alma e corpo e de que somos

A trágica moldura, errando à sorte,

E ela, é ela, a nossa aparição,

Feita de estrelas, sombras, ventanias

E séculos sem fim, surgindo, enfim,

Cá fora, sobre a Terra, à luz do Sol.


Teixeira de Pascoaes

Cânticos (1925)

1 comment:

Ana Filipa Portugal said...

Miguel...
Finalmente vi o teu filme... Uma vergonha, depois de tanto tempo! Está muito fixe!!!
Houve coisas que ainda me deixaram a pensar um momento tipo aquela colcha, tão portuguesa, tão familiar, pensei "não ficaria melhor ali qualquer coisa mais neutra?", assim como as decorações na parede que às vezes apareciam só assim por acaso, parecia que apareciam sem teres pensado mesmo nisso esteticamente... coisas de quarto, de quarto que não é de jovem adulto com o estilo X ou Y ou Z, nem é de adolescente, nem de velho... é o quarto de uma pessoa! Parece que de uma pessoa que tem aquele quarto há muitos anos e já não é propriamente sensivel ao que lá está dentro, aliás, nem vê bem o que lá está porque aquilo é que é o "neutro" para o dono daquele quarto... por isso quando voltou a aparecer a colcha já gostei e depois gostei ainda mais (e a parede também) porque me pareceu muito tempo, um "muito tempo" numa escala temporal que ainda é a nossa e não "um milénio" como nos contos de fadas... tipo eu estou aqui, no meu espaço que é tão meu que nem o saberia descrever e estou a sussurrar-me qualquer coisa, a contar-me as minhas histórias que têm a ver contigo... coisas assim... isto foi o que eu pensei desta primeira vez que vi. Talvez da próxima vez preste mais atenção às palavras e não repare tanto no espaço/tempo/imagem... Talvez devesse mas é copiar este "testamento" para um e-mail e enviar-to só a ti...

Que se lixe, agora que já escrevi para aqui isto tudo ao correr da pena, aqui vai!

PS - Parabéns!

Estou aqui, penso em ti ou não, não importa, não interessa, porque o que quer que seja aqui neste lugar (o que quer que sejas tu ou outra pessoa qualquer) é meu, é a minha imagem, no meu espaço, a minha voz ao meu ouvido, o meu momento... pronto... cala-te Filipa que já disseste mais palavras do que as do próprio poema...

Beijinhos, Mike.